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A História dos Batistas em Santarém: Fé, Perseverança e Legado

Como Batistas, reconhecemos que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas, mas na sua Igreja, que é o seu verdadeiro templo. Isso não diminui a importância histórica de certos lugares para nossa fé. Recentemente, no aniversário de 153 anos da organização da primeira Igreja Batista no Brasil, a imagem que ilustrou a comemoração foi a do pequeno templo em Santa Bárbara d’Oeste, São Paulo, onde os primeiros Batistas se reuniram. Aquele local evoca histórias e memórias.

 

Ao analisarmos a história do Protestantismo no Brasil, é crucial lembrar que as primeiras missões ocorreram numa época em que o catolicismo romano era a religião oficial, e os protestantes gozavam de pouca liberdade. As leis da época dificultavam significativamente a construção de templos protestantes.

 

Na história do protestantismo em Santarém, na Amazônia paraense, a presença de famílias americanas foi fundamental. Foram essas famílias que organizaram a primeira Igreja Metodista em Santarém, em 1869, que também foi a primeira Igreja Metodista do Brasil. Anos depois, a conversão de metodistas à pregação do notável missionário Eurico Nelson levou à fundação da primeira Igreja Batista de Santarém, em 1904, que celebrou seus 120 anos em 2024.

 

Inicialmente, os Batistas de Santarém tinham uma modesta casa de cultos, um local simples e frágil, vulnerável aos danos causados pelas fortes chuvas do verão amazônico. Essa estrutura acabou sendo destruída após uma tempestade particularmente intensa. David Afton Riker, um Batista das primeiras gerações em Santarém, compartilhou comigo em diversas ocasiões os desafios enfrentados pelos crentes Batistas na cidade, onde eram perseguidos por serem um grupo minoritário.

 

A primeira casa oficial dos Batistas foi inaugurada em novembro de 1905. Era um local simples e frequentemente alvo de ataques por parte de intolerantes. Eurico Nelson, homem de coragem, liderou a Igreja, composta majoritariamente por mulheres e crianças, na construção do templo de alvenaria. Ele obteve apoio da Junta de Richmond, das ofertas dos irmãos de Santarém e de outras partes do Brasil. O templo foi erguido sob a administração de David Bowman Riker e inaugurado em 24 de dezembro de 1935

 

David Bowman Riker, nascido em 1861, em Charleston, Carolina do Sul, era filho de Robert Henry Riker, um sacristão protestante que trouxe a família para a Amazônia paraense em 1867. Robert faleceu em 1883 e, por ser protestante, não pôde ser enterrado no cemitério de Santarém, destinado apenas a católicos. Ele partiu com o sonho de ver no Brasil a mesma liberdade religiosa que conhecera em sua terra natal, onde o protestantismo de diferentes vertentes pudesse se consolidar e erguer templos como expressão de uma fé verdadeira.

 

A escolha de David Bowman Riker por Nelson não foi aleatória. Ambos vinham originalmente de famílias luteranas, e Nelson conhecia o sonho do pai de seu amigo. O templo Batista de Santarém foi construído seguindo o modelo de uma pequena capela de uma Igreja protestante da Carolina do Sul. Foi erguido pelas mãos de um povo que sofreu perseguição e resistiu a todas as formas de violência.

 

Atualmente, os Batistas não mais se reúnem naquele templo, pois a antiga estrutura se tornou pequena para abrigar uma Igreja em crescimento. No entanto, o templo de quase 90 anos ainda está de pé e é considerado um patrimônio de Santarém. Para os Batistas, especialmente para aqueles que conhecem sua história, esse templo é um testemunho de um passado de lágrimas, alegrias, orações e perseverança.

 

Louvamos a Deus pela vida de todos os Batistas do passado e do presente, que continuam a obra daqueles que vieram antes de nós.

 

Thiego Breno Fernandes Riker

membro da Igreja Batista de Itacuruçá