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Estamos ficando sem novos líderes?

Após a Segunda Guerra Mundial, especialmente nos Estados Unidos, com o fim do racionamento, crescimento econômico, expansão da produção etc., houve a ampliação no estímulo ao consumo e a necessidade de conhecer o consumidor, quando se supõe que se buscou diferenciar o público com suas próprias demandas e foi surgindo a divisão populacional em diversas gerações. Mesmo assim, hoje já é perceptível que existem realmente diferenças geracionais que alteram a maneira de considerar o mundo, os relacionamentos, as prioridades e as decisões.

 

Portanto, levar em conta essas características se torna fundamental para que possamos alcançar especialmente as novas gerações, para que não haja um prejudicial hiato ou ausência de liderança na vida da igreja. Isso é um indicador da necessidade de despertamento e capacitação continuada de líderes, à qual precisamos estar bem atentos e sincronizados.

 

Aliás, precisamos ligar nosso “radar” para muitos indicadores do tempo presente, para conseguirmos cumprir cabalmente nossa missão como líderes, deixando sólido um legado que alimente com contínua segurança o cumprimento de nossa missão no plano divino de restauração de todas as coisas (Efésios 1).

 

Para ilustrar, vamos citar apenas um exemplo que merece todo cuidado. Aqui nos referimos ao cuidado com o preparo de jovens que estejam ingressando no ensino superior, quando estarão sendo inseridos em um ambiente de pesquisas, mas também expostos a cosmovisões diferentes da cosmovisão cristã, que colocam em risco a visão bíblica sobre a família, a sexualidade, abrindo espaço para o secularismo, o ateísmo, ética relativista, mas também para um ambiente de drogas, cultura de gênero etc. A pergunta oportuna seria: como esses jovens estão sendo preparados do ponto de vista bíblico, teológico, ético-cristão e até mesmo em termos culturais, para que consigam, apesar do ambiente em que estariam, ser embaixadores do Reino de Deus, sal, luz, manifestando lealdade a Deus e à Sua Palavra e, ainda, manifestando o viver cristão de modo atraente, que supere as expectativas no tempo da academia?

 

Diversos colegas pastores já têm demonstrado que jovens de suas igrejas, quando vão à faculdade, acabam se afastando do convívio eclesiástico, muitas vezes sem terem recebido suporte para essa nova fase de suas vidas. Em alguns casos, acabam retornando ao convívio eclesiástico quando se casam e têm filhos, para que possam ter assistência na formação religiosa deles.

 

Esse cenário é algo preocupante, mas precisamos compreendê-lo para dar suporte e conseguirmos ter igrejas fortes e saudáveis, com a manutenção das diversas gerações no viver cristão e sendo testemunhas de vidas transformadas e transformadoras em seu ambiente de convivência.

 

Muito poderíamos ainda mencionar sobre o tema, mas sobra uma indagação: o quanto de nós, pastores, estamos de fato nos preparando, nos atualizando em relação às tendências culturais que estão formando novos e complexos cenários e, ainda mais, buscando caminhos bíblicos para que nossos jovens possam estar preparados para ser testemunhas vivas de um Evangelho atraente e transformador?

 

Enquanto o tempo passa, tem sido possível notar que o preparo e a atualização pastoral nem sempre têm sido prioridade. Talvez estejamos nos envolvendo tanto com a obra de Deus que possamos estar esquecendo do Deus da obra e da missão que Ele nos tem dado: cuidar de vidas, mais do que de resultados estatísticos. Parece-nos que o pragmatismo e o utilitarismo funcional têm nos tirado da frente essas prioridades.

 

Então, mãos à obra! O que poderemos fazer para que as novas gerações possam estar ao nosso lado e, em seguida, assumirem a liderança, seja em um âmbito denominacional, seja, mais ainda, na vida de nossas igrejas? Vamos a algumas sugestões:

 

• MAPEAR A SITUAÇÃO - VER RISCOS E OPORTUNIDADES.

Em primeiro lugar, estamos diante de uma CRISE, e toda crise tem dois lados: PERIGO/RISCO e OPORTUNIDADE. Então, precisamos mapear o risco que teremos e os prejuízos se esse tema não for tratado. Em seguida, desenhar um caminho para as oportunidades de aproximação às novas gerações e às futuras conquistas que elas poderão trazer para enriquecer ainda mais o cumprimento da missão que Deus nos tem confiado.

 

• COMPREENDER COMO CADA GERAÇÃO ENXERGA O MUNDO, A VIDA.

As novas gerações são fruto das experiências que seus pais foram vivendo ao longo do tempo, de como enfrentaram as crises de cada época, como isso foi transferido aos filhos, como puderam ensinar os filhos a enfrentar ou não enfrentar crises, frustrações, planejar o tempo, desenvolver relacionamentos e amizades, preparando-os para a vida. Com isso, é possível colocar as mesmas lentes e cores que as novas gerações utilizam para ver as situações da vida, os dilemas, e como buscam respostas e se buscam ou esperam que o tempo dê respostas etc. Hoje há muita literatura disponível para isso. Assim, poderemos ver a vida e as suas situações com o mesmo olhar das novas gerações.

 

• COMPREENDER COMO AS NOVAS GERAÇÕES ESTABELECEM O QUE DE FATO IMPORTA.

Como cada geração, em termos gerais, estabelece suas prioridades? O que de fato toma a atenção delas? Como o aspecto institucional e formal é considerado por essas novas gerações? Como daremos oportunidade para que possam dinamizar o atendimento às coisas do Reino de Deus? Como conseguirão fazer a transição institucional em busca de resultados mais dinâmicos? Se a visão institucional não tem prioridade, como seria possível promover o processo de decisões? Decisões colegiadas e de consenso seriam melhores que decisões juridicamente legitimadas?

 

• COMPREENDER COMO CADA GERAÇÃO BUSCA RESOLVER DILEMAS, DESAFIOS, PROBLEMAS, CONFLITOS.

O item anterior nos conduz a este. Soluções de conflitos, por exemplo, demandam processos de negociações, estabelecimento do que seja de fato importante. Muitas soluções de problemas e conflitos passam pelo valor que se dá aos relacionamentos. Se um relacionamento, por exemplo, é prioritário, em geral, um problema, dilema ou conflito pode não representar prioridade e poderá não ser considerado. Assim, as gerações mais adultas (X, Baby Boomer), que estão, em geral, hoje na liderança, podem valorizar mais resultados, mais o aspecto institucional, menos os relacionamentos. E isso pode ser fator de conflito entre as gerações atuais e as novas gerações, de modo que os ruídos de compreensão se instalam e podem impedir a abertura de espaço para diferentes abordagens nesse sentido.

 

• ABRIR DIÁLOGO COM AS NOVAS GERAÇÕES.

Escuta atenta aqui vale mais do que escuta ativa. Isto é, ouvir primeiro para compreender, depois buscar retornar com respostas. Quando uma pessoa nota que estamos atentos para ouvir, os ruídos na comunicação são atenuados. As novas gerações precisam ser ouvidas, pois podem ter respostas diferentes para situações que podem trazer melhores resultados do que estamos acostumados. Quem sabe as novas “lentes” tragam novas luzes, novas percepções, novas variáveis que poderão indicar caminhos com maior resolução.

 

Existem outras providências, mas estas já podem nos ajudar na abertura do diálogo e de espaço para que as novas gerações possam participar ativamente da missão que Deus nos tem dado, seja no âmbito denominacional, seja no eclesiástico. Afinal, essas novas gerações são nossos filhos, filhos de nossas ovelhas nas igrejas, nossos netos, que poderão estar esperando ser ouvidos e ter oportunidade para participar. É tempo de refletirmos e atuarmos na busca desses novos caminhos.

 
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