Artigo

Exortados a crescer e a perseverar

Os capítulos 5 e 6 de Hebreus nos exortam a uma caminhada de crescimento e perseverança. Todo cristão precisa, à medida que caminha com Cristo, amadurecer na fé. No início, aprende as informações basilares do evangelho para, depois, compreender os assuntos mais complexos. Esta é parte da reflexão deste texto bíblico, que começa com uma palavra de exortação diante dos temas tratados anteriormente. Só, então, a epístola aborda um assunto polêmico: o perigo da apostasia.

 

Repreensão à negligência espiritual (Hebreus 5.11-14)

 

Jesus é sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. Antes de explicar aos seus leitores o significado desse misterioso título, o autor insere uma longa exortação para aumentar a tensão e justificar a continuidade de sua exposição. Entre os problemas, ainda não resolvidos da Carta aos Hebreus, está este: até que ponto os leitores estavam preparados para seguir o difícil curso das ideias apresentadas? Geralmente, supõe-se que o autor queria compartilhar os frutos de seus próprios estudos das Escrituras.

 

Nesse sentido, o autor não apresenta um testemunho muito favorável da comunidade. Embora a conversão e o batismo já tivessem ocorrido há bastante tempo, não se pode falar de maturidade cristã ou maioridade espiritual. Praticamente, ele precisou recomeçar desde o início, instruindo os cristãos nos fundamentos da fé. O “leite” lhes convinha mais do que o “alimento sólido”. Como mostram outras passagens do Novo Testamento (1Co 3.1,2; 1Pe 2.2), a carta utiliza uma imagem comum nos tempos antigos que, por si só, era muito compreensível.

 

Exortados a prosseguir (Hebreus 6.1-3)

 

O autor, ao mesmo tempo que enumera detalhadamente os temas que não tem intenção de abordar, define o tema do seu discurso com uma única palavra de difícil tradução: τελειότης (teleiótēs), que se refere a algo relacionado à “perfeição”. Em contraste com os ensinamentos fundamentais da fé cristã, trata-se de um conhecimento mais avançado da verdade salvadora, acessível apenas a cristãos maduros.

 

Os fundamentos cristãos aqui mencionados constituem a base para futuras especulações teológicas. O afastamento das “obras mortas” (Hb 9.14), a fé em Deus (Hb 11.6) e o julgamento final (Hb 9.27; 10.27,30; 12.23,25,29) são temas que o autor nunca perde de vista. Ele não deseja tratar os leitores como iniciantes, embora o estado de espírito deles, em termos de fé e moral, o exigisse.

 

A questão da apostasia (Hebreus 6.4-12)

 

Esta séria advertência só pode ser devidamente compreendida se o seu gênero literário for levado em conta. Trata-se da palavra de um pastor de almas que deseja impedir a apostasia iminente e, para isso, descreve suas terríveis consequências. Não se trata de uma decisão moralista sobre a questão – que se tornaria aguda no segundo século – se os cristãos que apostataram poderiam ser readmitidos na comunhão da igreja caso se arrependessem sinceramente de seus pecados.

 

Dessa forma, o autor não declara a impossibilidade de um segundo arrependimento, mas exorta os leitores a pararem a tempo e retornar ao caminho certo. A enumeração dos bens da graça conferidos pelo batismo soa inefavelmente como um encorajamento. Quem se prepara para renunciar à fé e abandonar a comunidade cristã deve lembrar das maravilhosas experiências com o Espírito nos primeiros anos. Embora a ruptura definitiva com Cristo não tenha sido consumada pelos destinatários da epístola, ainda há possibilidade de reavivar essas experiências. Outra interpretação sugere que o escritor pode estar descrevendo alguém que apresenta todos os sinais distintivos da fé cristã, mas que, mesmo assim, não é um verdadeiro cristão.

 

Em uma pintura rápida, mas altamente eficaz, é apresentado o contraste entre bons e maus cristãos (Hebreus 6.7-9). O sombrio pessimismo em relação ao destino daqueles que apostatam da fé é acompanhado por um otimismo ainda maior em relação à salvação daqueles que, talvez, com um último esforço desesperado permanecem fiéis a Cristo. A confiança do autor se baseia na garantia mais segura: a justiça de Deus, que não deixa sem recompensa nenhuma boa obra.

 

O autor então dirige suas exortações, não a cristãos individuais, mas à comunidade inteira (Hebreus 6.10-12). Ele observa, junto a lamentáveis casos de abandono, exemplos louváveis de fervor e amor dispostos a servir. Isso o faz acreditar que seu desejo de que todos os fiéis retornem ao caminho de uma vida cristã exemplar não será frustrado. Uma coisa, porém, é necessária a todos os membros da comunidade: paciência apoiada pela fé, que espera sem hesitação o cumprimento da promessa.

 

A garantia da salvação (Hebreus 6.13-20)

 

Os cristãos cansados de esperar deveriam tomar Abraão como exemplo. Dois pensamentos se entrelaçam no argumento que reaparecerá no desenvolvimento posterior da carta: Deus confirmou, com um juramento solene, a promessa, que por si só já é infalível; e somente após longa e paciente perseverança, Abraão se tornou herdeiro da promessa. A ideia do juramento de Deus (a segunda coisa “irrevogável” – v. 18) pode nos parecer demasiadamente humano, embora a argumentação da Carta aos Hebreus lhe tenha dado grande importância. Em última análise, é uma imagem de fácil compreensão sobre a natureza inquebrantável e definitiva de uma promessa de Deus.

 

O motivo da paciência sustentada pela fé e da esperança em meio às circunstâncias adversas reaparece na terceira parte da carta (Hebreus 10.36; 11.13,39; 12.1). Nesse momento, o autor está mais preocupado com o fato de que nossa esperança cristã de salvação já criou raízes sólidas no mundo celeste ou, como se diz na linguagem cúltica e náutica da carta, “como âncora firme e segura da nossa vida” (Hebreus 6.19). Essa âncora de esperança prende o cristão firmemente ao lugar da presença de Deus, o mundo celestial. Nós nos apegamos a essa esperança, que penetra até atrás do véu. Isso significa, concretamente, que Jesus, como nosso precursor e sumo sacerdote, já alcançou a meta para a qual todos nós nos dirigimos.

 

Conclusão

 

O livro de Provérbios apresenta um ensinamento que, de certa forma, se harmoniza com a exortação do final do capítulo 5: “A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando cada vez mais, até ficar completamente claro” (Pv 4.18). É necessário avançar e crescer no conhecimento de Cristo. Assim, não podemos nos limitar aos assuntos basilares, pois há uma série de ensinos decorrentes do sacrifício expiatório de Jesus e de suas implicações na vida cristã. Esse conhecimento é acessível a todos que abraçam a fé.

 

Também, não devemos esquecer do risco sempre presente da apostasia. Por isso, precisamos constantemente renovar nosso compromisso com Cristo, seguindo o exemplo de Abraão. Devemos imitar todos aqueles “que herdam as promessas por meio da fé e da paciência” (Hb 6.12).

 
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