A palavra mordomia é vista no Brasil como alguma coisa negativa, pois fala de pessoas desonestas que utilizam recursos alheios para o seu benefício e entretenimento. É viver de forma regalada, como alguém que tem muito dinheiro. Lembramos dos marajás da época do Collor, que possuíam altíssimos salários no poder público em detrimento dos mais pobres. No sentido etimológico, mordomar (de mordomia) e mordomo é “gestão, direção, gerência, comando, condução, feitoria, superintendência, domínio, diretor, chefia, administração, manutenência, manutenção, rédea, governo, guia, compasso” (Azevedo, 319). Então, exercer a mordomia ou ser mordomo é administrar, na perspectiva de Cristo, os dons, bens, recursos, tempo, oportunidades, enfim, todas as dádivas que nos foram concedidas somente por causa de Cristo Jesus, nosso Senhor. Ele é o nosso BEM maior. O nosso tesouro incalculável e insubstituível. Ser mordomo é servir a Cristo com tudo o que somos e temos por graça e com alegria. Fomos salmos pela graça e devemos viver por esta mesma graça (Efésios 2.8-10).
Mordomia para nós, crentes, é exercer a bênção da liberalidade em Cristo. A bênção de contribuir com a vida e com os bens para abençoar pessoas. Ser mordomo é ser um investidor da eternidade, pois ele não está preso ao tempo. Os seus investimentos são uma semeadura que ultrapassa este tempo. Certamente ele é um excelente administrador do tempo dado pelo Senhor. No exercício da mordomia contribuímos para o sustento da obra de Deus; para nos desapegarmos das coisas materiais, das riquezas; e, acima de tudo, GLORIFICARMOS A DEUS. A Glória do meu Pai é a razão maior de tudo o que sou, tenho e faço (I Coríntios 10.31). Há tantas pessoas apegadas às coisas materiais, incapazes por si mesmas de contribuir com liberalidade, com gratidão e com louvor. O dinheiro é um excelente servo, mas um péssimo senhor. Deixar-se dominar pelas coisas desta vida é revelar uma alma mesquinha, medíocre e infeliz. Vejamos o que Paulo diz no contexto da morte e da ressurreição do cristão: “Se a nossa esperança em Cristo é apenas para esta vida, somos os mais dignos de compaixão entre todos os homens” (1 Coríntios 15.19). Jesus nos alertou quanto ao perigo de colocarmos o coração nas riquezas. Ele orientou o jovem rico a vender tudo o que tinha e distribuir aos pobres, mas ele ficou muito triste porque possuía muitos bens (Lucas 18.22,23). O mesmo Senhor disse sabiamente: “Como é difícil para os que têm riquezas entrar no Reino de Deus! Pois é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Lucas 18.24,25). Jesus o chamou para ser um mordomo cristão, mas ele preferiu ser um mordomo de si mesmo.
A nossa Declaração de Fé Batista diz que “mordomia é a doutrina bíblica que reconhece Deus como Criador, Senhor e Dono de todas as coisas (Genesis 1.1; Sl 24.1; I Coríntios 10.26). Todas as bênçãos temporais e espirituais procedem de Deus e por isso devem os homens a Ele o que são e o que possuem e, também, o sustento (Genesis 14.20; Deuteronômio 8.18; 2 Co 8.5). O crente pertence a Deus porque Deus o criou e o remiu em Jesus Cristo (Genesis 1.27; 1 Coríntios 6.19,20; I Pedro 1.18-21). Pertencente a Deus, o crente é mordomo ou administrador da vida, das aptidões, do tempo, dos bens, da influência, das oportunidades, da personalidade, dos recursos naturais (meio ambiente tão propagado em nossos dias) e de tudo o que Deus lhe confia em Seu infinito amor, providência e sabedoria (Mateus 25.14-30; 31- 46). Cabe ao crente o dever de viver e comunicar ao mundo o evangelho que recebeu de Deus (Romanos 1.14; I Coríntios 9.16). As Escrituras Sagradas ensinam que o plano específico de Deus para o sustento financeiro de Sua causa consiste na entrega pelos crentes de dízimos e ofertas alçadas (Genesis 14.20; Provérbios 3.9,10; Malaquias 3.7-12; Mateus 23.26). Devem eles trazer à Igreja sua contribuição sistemática e proporcional com alegria e liberalidade, para o sustento do ministério, das obras de evangelização, beneficência e outras (Atos 11.27-30; I Coríntios 16.1-3; II Coríntios 8.1-15; Filipenses 4.10-18)”.
Damos graças ao Pai pelos mordomos, servos, administradores da vida e dos bens na perspectiva de Cristo Jesus! Por aqueles que dão o melhor de si e do que têm para o sustento da obra de Deus em todo o mundo. Por aqueles que, tendo recebido a missão do Pai de anunciar o evangelho, o fazem com alegria. Pelos que glorificam a Deus e se desapegam dia após dia das coisas materiais. Que um dia venderam tudo o que possuíam para adquirirem um tesouro muito maior. Eles se desfizeram do apego às coisas materiais para se apegarem a Cristo. Deixaram de confiar em si mesmos e nas coisas que possuíam para confiarem em Cristo Jesus, o Senhor. Estes são os mordomos verdadeiros. São servos que servem com alegria e singeleza de coração. Que lançaram a mão no arado sem olhar para trás, mas para Jesus, o Autor e o Consumador da fé (Hebreus 12.1,2). Mordomos que fazem de Jesus o referencial de tudo o que ganham e de tudo o que gastam ou investem. Como Barnabé, eles são liberais, amorosos, misericordiosos, dispostos a servirem com os bens dados por Deus. Por causa destes, usados pelo Senhor, a Igreja avança sustentando pastores, ministros de música, ministros de educação cristã, missionários, ajudando órfãos e viúvas; auxiliando e amparando os pobres, os enfermos, os que têm necessidades especiais; os usuários de drogas e injustiçados; e outros. O trabalho cresce porque o Senhor pode contar com os Seus filhos que investem no Reino com profundo amor. Reconheçamos que toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do Pai das luzes em quem não há mudança e nem sombra de variação (Tiago 1.17). Sejamos mordomos, exercendo a liberalidade em tudo o que somos e temos da parte de Deus para a Sua própria Glória.