Uma das coisas mais difíceis da vida é controlar os impulsos da carne, descentralizar nossa vontade egoísta, avara, autocentrada. A natureza humana de Adão, nossa natureza carnal, milita contra o Espírito para que não façamos a vontade de Deus. Fazer a nossa vontade é um traço muito forte da carne, da nossa vida autocentrada. O desejo carnal é sempre satisfazer nossas necessidades, mesmo que isso comprometa princípios éticos e espirituais determinados pelo Senhor.
Jesus morreu naquela cruz e ressuscitou ao terceiro dia para que morrêssemos e ressuscitássemos com Ele em novidade de vida. Há uma batalha campal em nosso corpo, travada entre a carne e o Espírito. O apóstolo Paulo declara que “os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.8). E isso é verdade, pois quantas derrotas sofremos pelo fato de andarmos na carne e não no Espírito! Esse mesmo Espírito deve controlar nossa vida para que a carne não tenha domínio sobre nós e, assim, vivamos de maneira que agrade a Deus.
A vida que agrada a Deus é uma vida de fé nas insondáveis riquezas de Cristo. A vida vitoriosa é real quando trazemos em nosso corpo o morrer de Jesus, para que Sua vida se manifeste em nossa carne mortal (2 Co 4.10; Jo 12.24-26).
1) TRAZENDO SEMPRE EM NOSSO CORPO O MORRER DE JESUS, TEMOS O TESOURO EM VASOS DE BARRO (v.7)
O tesouro – a glória de Deus na face de Cristo – está dentro de nós pela obra de Cristo na cruz e na ressurreição (2 Co 4.6). Que tesouro maravilhoso! Porém, esse tesouro está em vasos de barro. E nós somos esse vaso – desprezível, limitado, frágil, defeituoso e falho. Deus, contudo, nos escolheu em Cristo para que tivéssemos dentro de nós essa riqueza maravilhosa e incomparável. O profeta Isaías nos dá uma dimensão interessante desse conceito de barro ao dizer: “Mas agora, ó Senhor, tu és o nosso Pai, nós somos o barro, e tu, o nosso oleiro; e todos nós, obra das tuas mãos” (Is 64.8). Essa é a nossa condição. Aprouve a Deus, por Sua graça, nos alcançar para que frutifiquemos para Ele. Somos vasos de barro – vasos fracos – para que a excelência do poder seja de Deus e não nossa (2 Co 4.7). Paulo deixa claro que o poder pertence a Deus, e não a qualquer líder dentro da igreja. O poder extraordinário, mais excelente e supremo é do Senhor. A igreja – o corpo vivo de Cristo – sempre será de Cristo. Somos apenas membros altamente dependentes d’Ele.
2) TRAZENDO SEMPRE EM NOSSO CORPO O MORRER DE JESUS, POIS O SOFRIMENTO FAZ PARTE DA VIDA CRISTÃ (vv.8-12)
Como vasos frágeis e limitados, sofremos. Sofremos pressões (aperto, angústia, aflição) de todos os lados. Somos identificados com Jesus em toda a Sua trajetória. Devemos sempre andar como Ele andou (1 Jo 2.6). O próprio Jesus nos alertou que no mundo teríamos aflições, mas deveríamos ter bom ânimo, pois Ele venceu o mundo (João 16.33). Somos atribulados e perplexos diante das catástrofes da vida, perseguidos e abatidos, mas jamais angustiados, desanimados, desamparados ou destruídos (vv.8,9). Jesus sofreu durante todo o Seu ministério – no Getsêmani, no julgamento, na via Crúcis e no Calvário –, mas sempre esteve em conformidade com a vontade do Pai. No jardim do sofrimento, Ele orou: “Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade” (Mt 26.42). Jesus foi obediente até a morte, e morte de cruz (Filipenses 2.5-11). Em Isaías 53, vemos a prova do sofrimento do Senhor Jesus. O sofrimento faz parte da vida cristã. Deus nos salva e nos trata para sermos semelhantes a Cristo. Nossa resposta deve ser igual à de Cristo, caracterizada por amor, submissão, mansidão e humildade. Dietrich Bonhoeffer afirmou: “Quando Deus chama um homem, Ele o chama para vir e morrer.” No dia 9 de abril de 1945, no campo de concentração de Flossenbürg, Bonhoeffer foi chamado para fazer exatamente isso. Recusou- -se a ser resgatado para não arriscar a vida de outros. Assim, “seguiu resoluto em seu caminho para ser enforcado e morrer com calma e dignidade admiráveis”. O principal problema, diz Tozer, é que gostamos demais de nós mesmos (vivemos um tempo de corpos sarados e almas doentes). Nós nos empenhamos para nos manter de cabeça erguida (dura cerviz). Whatchman Nee afirmou sabiamente que “entre o mundo velho e o mundo novo há um túmulo”.
3) TRAZENDO SEMPRE EM NOSSO CORPO O MORRER DE JESUS, VIVENDO UMA VIDA DE FÉ (vv.13,14)
Nosso morrer com Jesus, a cada dia, passa pela fé. Paulo ensina: “Eu cri; por isso, é que falei. Também nós cremos; por isso também falamos” (v.13). O morrer de Jesus em nosso corpo é uma questão de fé na Sua obra suficiente na cruz e na ressurreição. O apóstolo Paulo compreendia isso quando declarou: “Já estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20). A vida cristã é uma vida de fé. É a fé que agrada a Deus (Hb 11.6). Deus trata conosco pela via da fé. A palavra diz que “o justo viverá por fé” (Hc 2.4; Rm 1.17). É pela fé em Cristo que devemos falar. Abraão viveu pela fé. Deus o chamou de Ur dos Caldeus (Iraque) para a terra prometida. Alguém que “ele não sabia para onde ia, mas sabia com quem ia”. Quando Deus pediu Isaque para ser imolado, o velho Abraão cria que o mesmo Deus que ordenou é o Deus da ressurreição. Ele cria que iria e voltaria com o seu filho porque estava firmado pela fé na fidelidade de Deus. Ainda que sejamos infiéis, Ele permanece fiel, pois não pode negar-se a Si mesmo (2 Tm 2.13).
4) TRAZENDO SEMPRE EM NOSSO CORPO O MORRER DE JESUS, EXPERIMENTANDO A GRAÇA DE DEUS, RESULTANDO EM AÇÕES DE GRAÇAS (v.15)
Todos somos fruto da manifestação da graça de Deus (Ef 2.8-10). Receber a vida de Cristo pela obra do novo nascimento é obra da graça. Essa graça basta e é completa, pois tem sua fonte no Senhor. O poder do Senhor se aperfeiçoa em nossa fraqueza (2 Co 12.9-10). A gratidão pela vida de Cristo em nós é fruto da manifestação da graça do Pai. Graça sempre produz gratidão e louvor. Jesus curou dez leprosos, mas só um voltou para agradecer. Por quê? Porque entendeu a graça de Deus. Somos gratos a Deus pela obra de Cristo em nós (crucificação, morte e ressurreição). Cada dia com temor no coração reconheçamos o incomparável amor de Deus em Cristo por nós tão pecadores. Mas a nossa esperança é que Cristo é a nossa vida (Cl 1.27). Ele é o nosso contentamento. Que o nosso coração se encha de gratidão a cada dia pela iniciativa de Deus Pai em nos buscar e nos reconciliar com Ele por meio do Filho (2 Co 5.18-20). Há uma verdade que não podemos esquecer: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Co 1.9). Vivamos esta comunhão com o Senhor Jesus para que o mundo O veja em nós.
A oração de Giovani di Pietro di Bernardone (Francisco de Assis) nos leva a refletir sobre como temos vivido diante de Deus. Ela expressa o desejo ardente desse homem santo:
"Senhor, faze-me um instrumento da tua paz/ Onde houver ódio que eu leve o amor; / onde houver ressentimentos, o perdão; / onde houver dúvidas, a fé; / onde houver desespero, a esperança;/ onde houver trevas, a luz;/ e onde houver tristeza, alegria. Ó Divino Mestre, concede que eu prefira consolar a ser consolado;/ compreender a ser compreendido, / amar a ser amado; pois é dando que se recebe; / é perdoando que se é perdoado; e é morrendo que se vive para a vida eterna”.
Este é o princípio: “não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Como Jesus ensinou: “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer dá muito fruto” (Jo 12.24). Jesus afirmou: “Se alguém quiser vir após mim negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24-27). Jim Elliot, um dos cinco missionários de Wheaton mortos pela tribo dos Aucas no Equador, disse: “Não é tolo aquele que renuncia ao que não pode reter para ganhar o que não pode perder”. Charles Albert Tindley (1851-1933), nos presenteia com um belíssimo poema intitulado “Nada entre a minha alma e o Salvador”:
Nada entre minha alma e o Salvador,
Nada dos sonhos ilusórios deste mundo;
Renunciei a todo prazer pecaminoso;
Jesus é meu, não há impedimento algum.
Nada entre minha alma e o Salvador,
Para que sua face bendita possa ser vista;
Nada impedindo seu mínimo favor,
Mantenha-se aberto o caminho!
Que não haja impedimento algum.
Nenhum impedimento, como orgulho ou posição;
Vida pessoal ou amigos não hão de interferir;
Ainda que me possa custar grande tribulação.
Estou resolvido; não há impedimento algum.
Nenhum impedimento, ainda que muitas duras provações;
Ainda que o mundo inteiro contra mim se reúna;
Vigiando em oração e muita abnegação,
Trinfarei por fim, sem impedimento algum.