Ao lermos a primeira epístola de João em 3.16a: “Nisso conheceremos o amor, que Cristo deu sua vida por nós”, percebemos que o autor aproveita o extraordinário exemplo de Cristo para nos desafiar a fazer a mesma coisa com o nosso próximo, quando, na parte “b” do texto, ele diz: “e nós devemos dar a vida pelos irmãos”. Uma das palavras-chave do texto é dar. Todo o Evangelho está embasado na generosidade do Pai criador, que demonstra Seu grande amor por nós e decide voluntariamente dar Seu único Filho em resgate de muitos (João 3.16). Em Atos 20.35b, lemos ainda que é melhor dar do que receber. Dar é ponto nevrálgico para o Evangelho. É notório que o amor está essencialmente ligado ao dar; se eu amo, estou disposto a viver além de mim mesmo para servir a Deus e ao próximo.
Na relação da criatura com o Criador, não cabe a proposta pós-moderna do hedonismo, narcisismo e antropocentrismo, que tem furtado a essência do próprio ser humano e o levado para os porões escuros do egoísmo, que derrama um sentimento de vazio e falta de sentido de vida em nossos corações. Ou seja, quanto mais vivemos para servir a nós mesmos, mais convivemos com um sentimento de vazio e falta de sentido de vida. Ao passo que, ao servir e cuidar do nosso próximo, mais sentido de vida e felicidade genuína experimentaremos. A própria ciência já se deu conta dessa profunda verdade bíblica.
Um grupo de pesquisadores da Universidade de British Columbia, no Canadá, em parceria com a Harvard Business School, convidou dois grupos de voluntários para uma pesquisa, no mínimo, instigante. Os dois grupos foram levados a um laboratório e tiveram seus índices de felicidade medidos. Logo após, o primeiro grupo recebeu uma boa quantia de dinheiro com a missão de ir às compras e gastar todo o dinheiro nos shoppings da cidade com eles mesmos. No final do dia, eles voltaram ao laboratório e mediram novamente seus níveis de felicidade; os marcadores mostraram que eles tiveram um grande crescimento nos níveis de felicidade. Após 24 horas, eles voltaram ao laboratório e repetiram o mesmo teste. Agora, os marcadores constataram que os níveis de felicidade voltaram para o mesmo nível de antes das compras.
O segundo grupo recebeu a mesma quantidade de dinheiro, mas a missão agora era gastar todo o dinheiro com outras pessoas. Eles doaram refeições para pessoas em condição de rua, foram às creches e a organizações filantrópicas de sua preferência e doaram tudo o que tinham. Como foi feito com o primeiro grupo, eles voltaram ao laboratório no final do dia e fizeram o teste de felicidade. Os resultados ficaram muito similares aos do primeiro grupo, ou seja, os índices de felicidade sofreram aumento significativo no final do dia. Assim como aconteceu com o primeiro grupo, eles foram convidados a repetir o teste 24 horas após as doações. Para surpresa dos pesquisadores, os índices de felicidade estavam muito elevados mesmo após as 24 horas da experiência. A pesquisa concluiu que há muitos benefícios para a felicidade e ainda para o bem-estar físico quando doamos.
Não estamos falando somente em doação material, mas também quando doamos atenção, bondade, gentileza e solidariedade, somos beneficiados pelo prazer incomparável do doar. E podemos concluir que dar é receber, ou seja, eu recebo muita satisfação e felicidade quando sou um doador.
Quando aprendemos o sabor e a nobreza do dar, vemos a vida com um sentido muito mais nobre e podemos concluir que “o que não é dado fica perdido”. Parece que Madre Teresa entendeu muito bem o significado de dar, ao ponto de declarar certa vez: “Não é suficiente dar, é preciso dar até doer”. Robert K. Greenleaf foi pioneiro do movimento moderno de liderança servidora. Ele descobriu em suas pesquisas que os melhores e mais influentes líderes do mundo, em todos os segmentos, são os líderes que amam doar e servir pessoas.
O texto de I João 3.16 nos desafia a fazer exatamente isso: devemos dar a vida pelos irmãos. Ao escrevermos as páginas do ano de 2025, lembremos de usar a tinta do amor para que as páginas mais significativas e marcantes da nossa existência sejam escritas nesse ano. Vamos exercitar a generosidade e graciosidade e perceber que essas ações irão alegrar e aliviar o fardo do nosso próximo e, consequentemente, colheremos experiências únicas que irão marcar profundamente nossa caminhada com Cristo e nos fará pessoas mais felizes.