Artigo

Aconselhar e dar conselhos

Em seu livro “A arte do aconselhamento psicológico”, o psicólogo Rollo May diz que “aconselhar e dar conselhos são atividades distintamente diversas”. A diferença, segundo o autor, é que “O conselho (usando o termo em seu sentido corriqueiro) é sempre superficial”, ao passo que “O aconselhamento genuíno opera-se numa esfera muito mais profunda e suas conclusões são sempre resultado do trabalho conjunto de duas personalidades num mesmo nível”

 

Dar conselhos, qualquer um pode dar. Mas para ajudar uma pessoa que busca aconselhamento, com o objetivo de obter orientação para uma dificuldade que ela esteja enfrentando, é preciso estar preparado. Cabe aqui uma ressalva muito importante: o aconselhamento é terapêutico, mas nunca pode ser confundido com uma psicoterapia, que só pode ser feita por um profissional devidamente formado e habilitado. Ignorar essa diferença é antiético e ilegal.

 

O conselheiro cristão precisa estar preparado em três área importantes: espiritual, emocional e teórica. A área espiritual diz respeito à dependência de Deus. O conselheiro cristão é um servo de Deus, que busca ajudar as pessoas em sofrimento, a partir de um dom dado por Deus, que é o dom da exortação (Rm 12:8). A palavra grega para exortação é paraklesis, e o sentido é “vir ao lado de para ajudar”. No livro “Aconselhamento Cristão”, o psicólogo Gary R. Collins diz que “o conselheiro cristão verdadeiramente eficaz é basicamente um instrumento perito e disponível através de quem o Espírito Santo opera transformando vidas”.

 

A segunda área na qual o conselheiro cristão precisa estar preparado é a emocional. Isso não significa “estar resolvido” em relação aos próprios sentimentos. Mas estar avisado em relação a eles. Mas para estar avisado em relação aos próprios sentimentos, o conselheiro precisa ter contato com eles. Ou seja, admiti-los. Para isso, é muito importante que o conselheiro tenha apoio de um mentor, com quem possa compartilhar seus medos e suas angústias.

 

Um outro aspecto muito importante em relação à falta de preparo emocional do conselheiro é o envolvimento íntimo / sexual com o aconselhado. Gary Collins diz que “O aconselhamento frequentemente envolve a discussão de detalhes íntimos que jamais seriam tratados em outro lugar – especialmente entre um homem e uma mulher que não são casados um com o outro. Isto pode despertar sexualmente tanto o conselheiro como o aconselhado. O potencial para a imoralidade pode ser ainda maior se o aconselhado é atraente para o conselheiro”.

 

A explicação mais comum quando o envolvimento íntimo entre conselheiro e aconselhado acontece é de caráter espiritual. No entanto, é preciso ressaltar que existe uma fundamentação teórica que fala desse envolvimento como um fenômeno, uma armadilha do psiquismo. Não há como falar sobre isso neste artigo. Ǫuem sabe em uma outra oportunidade.

 

Um outro aspecto muito importante para o conselheiro cristão é o preparo teórico. Muito embora, no contexto da igreja, o aconselhamento seja entendido como um dom dado por Deus, é importantíssimo que o conselheiro cristão entenda a importância de se possuir um conhecimento teórico razoável sobre o funcionamento do psiquismo. É a partir desse conhecimento teórico que o conselheiro poderá compreender padrões de comportamento, pensamentos disfuncionais e emoções subjacentes nos aconselhados.

 

Ao integrar princípios bíblicos com conhecimentos teóricos da psicologia, o conselheiro cristão pode oferecer um atendimento equilibrado, que não apenas considera a dimensão espiritual, mas também a dimensão emocional e psicológica do aconselhado.