Artigo

Cuidado com a liderança tóxica

Liderar é uma tarefa glamourosa para quem almeja projeção e poder. No entanto, ela é uma tarefa multifacetada e que exige um perfil arrojado, flexível, criativo, proativo, agregador, assertivo, responsável, sensível, dentre muitos outros atributos. O líder é aquele que conduz a sua equipe no alcance das metas, estabelecidas de acordo em um projeto compartilhado com seus liderados. Também os assiste, a fim de concluírem a tarefa. Ele é um gestor de pessoas.

 

Existem vários tipos de liderança. A liderança tóxica é uma forma nociva de liderar, que provoca reações negativas nos liderados. Na maioria dos casos, o líder não consegue perceber que as suas práticas são detratoras, gerando uma equipe adoecida e em última análise, tóxica.

 

O ambiente eclesiástico também não está imune à liderança tóxica. O fato de ter passado por uma experiência de conversão a Jesus Cristo não torna o líder cristão um ser perfeito. Como humano, ele possui vulnerabilidades e não será uma posição de liderança que o transformará em sua essência. Será necessário desejar viver as mudanças.

 

O rei Saul era um líder preocupado com a sua popularidade e aceitação. Ao ser desobediente quanto ao sacrifício dos animais, queria retornar à cidade ao lado do sacerdote e profeta Samuel (II Samuel 15.24-30). Para Saul, o que importava era chegar na cidade em boa posição. Ele não se percebia, ou não avaliava o quanto estava desobedecendo ao Senhor. Sua liderança vaidosa e caprichosa pôs fim ao seu reinado. Diante desse exemplo, é importante que o líder busque investir no seu autoconhecimento para avaliar constantemente a sua liderança.

 

Existem “sintomas” manifestos por líderes tóxicos. Eis alguns mais evidentes:

 

• O líder tóxico está preocupado com o produto, e não com as pessoas.

Não importa o estado emocional de sua equipe, as fragilidades ou limitações dos liderados. No afã de ser reconhecido e valorizado, diante do seu alto desempenho como líder, o que vale é o resultado, mesmo que às custas do desgaste e adoecimento de uma equipe. Esse foco quase que obsessivo no resultado, não leva em conta que tal alcance se faz com gente. Uma liderança tóxica não reconhece o trabalho dos liderados. Falta, na maioria das vezes, sensibilidade, gratidão e atitudes humanitárias.

 

• O líder tóxico não tolera as críticas.

Ele as recebe como ataques e não as vê como uma oportunidade constante de avaliação. A crítica só é percebida por um viés negativo. Talvez, o grande fantasma chamado medo apareça diante de uma crítica. Por isso, está sempre armado e fechado para qualquer autoavaliação. Ele não quer dialogar, pois ao abrir-se ao diálogo, estará suscetível às críticas.

 

• O líder tóxico impõe medo e insegurança.

Existem características que revelam um ambiente marcado pelo medo e insegurança: clima no grupo, rotatividade nas equipes, comportamento dos liderados e, até mesmo, a saúde destes. Um sofrimento é imposto a um grupo de trabalho. À maneira, o “como” no funcionamento das engrenagens é adoecedor pela forma como o líder se relaciona com os liderados. Aparentemente, o líder é respeitado e a equipe trabalha, atingindo os objetivos estabelecidos pela liderança com um custo altíssimo a ser pago.

 

Um alerta para todos: exercer a liderança de um grupo ou equipe é um desafio que compreende constantes autoavaliações e a busca de crescimento e autoconhecimento.

 

• Reconheça cada liderado, suas contribuições, o potencial de cada um;

• Invista em novos líderes. Encoraje o crescimento pessoal de seus liderados;

• Seja flexível, ouvindo e acolhendo experiências, ideias inovadoras e criativas;

• Não tenha medo de compartilhar a liderança; • Aperfeiçoe o processo de dar e receber feedbacks;

• Esteja em constante crescimento pessoal (submeta-se a autoavaliações, faça terapia, busque nova capacitação);

• Prepare-se para passar a liderança para outro(s);

• Seja, antes de tudo, alguém que toca o coração do outro, sensibilizando-o ao invés de amedrontá-lo.;

 

O texto intitulado Saber Viver, de Cora Coralina, ensina muito sobre uma liderança afetuosa, não-tóxica:

 

“Não sei... se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo: é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira e pura... enquanto durar”. 

 

Deusirene Moreira

ministra de Educação Cristã da Igreja Batista em Parque Araruama,

em São João de Meriti - RJ