Artigo

Saúde mental na Igreja

Falar sobre saúde mental na Igreja pode parecer estranho para muitas pessoas, porque ainda não entenderam que ser crente não significa deixar de ser humano. Por outro lado, ao observarmos os textos bíblicos que abordam temas como: medo, ansiedade, angústia, depressão e outros relacionados à saúde emocional e mental, percebemos que a fé em Deus não suprime nossa humanidade, nem trata com negligência nossa vida emocional. No livro “A arte do aconselhamento psicológico”, o psicólogo existencial Rollo May afirma que “O homem não é uma criatura totalmente horizontal, nem totalmente vertical. Ele vive tanto horizontal quanto verticalmente, e é a intersecção desses dois planos que causa a tensão básica no homem”.

 

Um outro aspecto muito importante para a promoção da saúde mental na Igreja é compreender que a fé em Deus é pessoal, mas não pode ser individualizada. Ela possui uma dimensão relacional que não deve ser ignorada, como evidenciado nos mandamentos mútuos de “acolham uns aos outros” (Romanos 15.7), “anime uns aos outros” (Hebreus 3:13), “suportem uns aos outros” (Efésios 4.2), “sejam compassivos e perdoem uns aos outros” (Efésios 4.32) e tantos outros.

 

Para promover a saúde mental na Igreja, é importante que:

 

Primeiro: o pastor compreenda a importância e os benefícios da abordagem desse tema na Igreja, inclusive para preservar sua própria saúde. O conselho dado por Jetro a Moisés é um exemplo claro disso (Êxodo 18).

 

Segundo: a Igreja entenda o significado de “saúde mental” a partir de uma abordagem bíblica e psicológica de temas como: crises de ansiedade, síndrome do pânico, burnout, depressão, suicídio e outros. Essa conscientização pode ser promovida por meio de seminários, palestras, congressos e cursos específicos.

 

Terceiro: formar uma equipe de conselheiros qualificados, composta por membros com o dom do aconselhamento. A Bíblia menciona que o aconselhamento (ou exortação, paráklesis no grego) é um dom que deve ser desenvolvido com dedicação (Romanos 12.8). Para isso, é importante treinar os membros que possuem esse dom. Negligenciar essa área pode resultar em uma grande dor de cabeça.

 

A promoção da saúde mental na Igreja não se restringe apenas aos membros, mas é uma forma bíblica de se relacionar com o mundo, exercendo amor, misericórdia e empatia.

 

Ailton Desidério,

psicólogo e pastor da Primeira Igreja Batista do Lins - RJ.