Liderar atualmente é um grande desafio, principalmente quando nos deparamos com uma sociedade que enfatiza o ter e o parecer ser, desprezando o ser. Passamos a amar as coisas. Temos nos tornado em fazeres humanos e não seres humanos. Onde estamos errando? Quando pensamos no amor, existe uma tendência muito forte em amar a nós mesmos, deixando o outro de lado, com suas dores e angústias. O egocentrismo está instalado.
As pessoas estão se perdendo dentro da vida, correndo desenfreadamente em busca de realizações, e se esquecem de viver a sua singularidade e potencial de vida. As pessoas estão tirando suas vidas, cometendo o suicídio. É normal? Isso vai continuar? Até quando seremos expectadores dessa tragédia? (Lamentações 1.12). Sabemos que a resposta é o amor. Estamos conscientes de que amar vale a pena. O amor implica em sensibilidade, movimento, envolvimento e entrega.
Líderes que não amam recitam: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Falar do amor de Deus entregando Seu amado filho pela humanidade é fácil e recompensador, pois nele temos vida abundante e eterna.
Líderes que amam conhecem e praticam: “Nisto conhecemos o amor, que Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (I Jo 3.16). Falar que Deus nos amou e deu o Seu filho é fácil. O grande desafio é amarmos e nos entregarmos ao outro. Ressaltamos que as passagens bíblicas acima foram escritas pelo mesmo autor, João, com numeração igual (3.16), desafiando-nos à prática do amor. Certamente isso não é uma coincidência, mas uma providência do céu, despertando a nossa atenção para ações efetivas.
Líderes que amam se preocupam com a situação emocional das pessoas, percebendo suas grandes lutas, tendo mais condições de ajudar. O amor gera sentimento de pertencimento, o que resulta em encorajamento para viver. A presença de Jesus Cristo na vida da mulher samaritana (João 4), dando-lhe atenção, fez com que ela pensasse na sua condição emocional e espiritual, abrindo-se para um profundo diálogo, passando a entender que Deus a amava e que havia solução para suas dores e angústias. O vazio do seu coração foi preenchido com o amor profundo e incondicional de Deus. Jesus não desviou a sua rota: “E era-lhe necessário passar por Samaria” (Jo 4.4). Como líderes, não podemos nos desviar das pessoas, se realmente desejamos cuidar delas, ministrando o amor do Senhor Deus.
Líderes que amam vão mais além. Num dos momentos mais difíceis da vida de Jesus Cristo, no Getsêmani, em meio a lutas terríveis e agonia profunda, verbalizando que era difícil beber daquele cálice, ou seja, morrer pela raça humana, carecendo da ajuda dos seus amigos e discípulos, ele foi um pouco mais além (Mateus 26.36-40). A tristeza de Jesus foi acentuada porque os discípulos não foram com Ele um pouco mais além, preferindo descansar. Pensaram tão somente neles. As dores emocionais do Mestre não foram consideradas, numa clara demonstração de apatia. Amar vale a pena quando estamos determinados a ir além, pois é lá que vamos encontrar as pessoas lutando e agonizando. Elas estão à espera de ajuda, companheirismo e compreensão. Qual será a nossa atitude? Jesus deseja que o imitemos, indo mais além, confortando pessoas, derramando assim do seu amor, compaixão e graça.
Líderes que amam não se conformam com este mundo. O apóstolo Paulo foi enfático: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus” (Rm 12.2). O mundo nos fala todos os dias das estatísticas de suicídio. Não devemos e não podemos nos conformar. O mundo traz imagens de pessoas cometendo suicídio. Não podemos nos conformar. O mundo desvaloriza a vida humana, numa clara oposição ao amor de Deus. Não podemos nos conformar. O mundo faz do suicídio um espetáculo, que viraliza. Não podemos nos conformar. O inimigo das nossas vidas veio para matar, roubar e destruir. Não podemos nos conformar. Temos plena convicção de que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação das pessoas. Essa mensagem nos fala da única libertação, que só acontece em Jesus Cristo (João 8.32,36). O nosso amado Salvador e Senhor espera que cooperemos com ele, falando que nele há vida abundante.
Líderes que amam são sensíveis à voz do Espírito Santo. Diariamente, ouvimos muitas vozes e a maioria delas fala de desesperança, guerras, conflitos relacionais, medos, mortes, violências, corrupção, entre outras coisas negativas. A situação é terrível, minando nossas forças, retirando quase que completamente o ânimo para viver. Precisamos ser sensíveis à voz do Espírito Santo, que tem procurado nos inquietar nestes dias, falando da urgente necessidade de mobilização. “Livra os que estão destinados à morte, e salva os que cambaleiam para a matança” (Pv 24.11). Sermos sensíveis à voz do Espírito é a grande necessidade da Igreja de Jesus Cristo, pois Ele foi sensível a essa voz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me para apregoar liberdade aos cativos, dar vista ao cego, pôr em liberdade os oprimidos, e anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.18,19).
Líderes que amam amam-se e se cuidam. A liderança é algo maravilhoso, pois recebemos de Deus a vocação. Contudo, é uma posição perigosa, podendo gerar sentimentos de superioridade, isolamento e percepções de que somos infalíveis.
Líderes são pessoas de carne, osso e emoções. O rei Saul cometeu suicídio, resultado do seu ego inflamado, achando que era melhor do que os outros, liderando sem a ajuda de outras pessoas. Judas Iscariotes cometeu suicídio porque vendeu o seu caráter e valores por 30 moedas. Ele não entendeu que era por demais valioso para Deus, esquecendo do Seu amor incondicional e perdão restaurador. O fato de sermos líderes não nos isenta de dores e angústias. Líderes que amam se amam e se cuidam, pois assumem sua condição humana, construindo amizades saudáveis e prestando contas, e interagem com outros profissionais, recebendo ajuda e necessárias orientações.
Doronézio Pedro de Andrade, pastor da Primeira Igreja Batista de Vitória - ES