Artigo

Currículo e Missão

“Portanto, proclamamos a Cristo, advertindo a todos e ensinando a cada um com toda a sabedoria, para apresentá-los maduros em Cristo” (Cl 1.28).

 

O Congresso de Educação Cristã da Ordem dos Educadores Cristãos Batistas do Brasil, que acontecerá no dia 20 de janeiro de 2026, por ocasião da Semana Batista, traz o tema deste artigo. Seremos convidados a discutir o currículo sob uma perspectiva cristã para alinhar fé, propósito e educação com profundidade. E, por que não, começar uma reflexão sobre esse tema?

 

A Educação Cristã é mais do que a transmissão de conteúdos, seja no ambiente eclesiástico ou escolar. Ela é um chamado à formação integral do ser humano e, principalmente no ambiente da Igreja, alinhando fé, propósito e conhecimento em uma jornada que visa apresentar cada cristão maduro em Cristo. O versículo de Colossenses 1.28 nos inspira a refletir o currículo sob uma perspectiva bíblica e a enxergar o ensino como instrumento de transformação — não apenas acadêmica, mas espiritual, social e comunitária.

 

Um currículo cristão não se limita à inserção pontual de temas bíblicos. É preciso vincular o conhecimento à prática da vida de tal forma que se dê mais um passo na direção da maturidade em Cristo (LEBAR, 2009). O currículo nasce de uma cosmovisão bíblica que reconhece Cristo como centro de toda a realidade. Cristo é o fundamento da educação cristã, como apontado em I Coríntios 3.11: “Porque ninguém pode lançar outro alicerce, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”. Integrar a fé cristã em todas as áreas do conhecimento é mais do que incluir versículos em conteúdo. Trata-se de construir uma cosmovisão bíblica que permeie disciplinas, práticas pedagógicas e relações interpessoais. Todo conhecimento verdadeiro aponta para o Criador de tal forma que a fragmentação entre fé e saber é superada. O currículo, nesse sentido, é um trilho direcionador que revela a soberania de Deus sobre todas as coisas. (PDEC-CBB, 2024).

 

A centralidade das Escrituras é o que distingue o currículo verdadeiramente cristão. A Bíblia não é apenas fonte de valores, mas critério pedagógico. Ela orienta conteúdos, métodos e objetivos, oferecendo sabedoria para ensinar, corrigir e formar caráter. Quando a Palavra de Deus é o fundamento, o ensino ganha profundidade, relevância e poder transformador. Cada conteúdo é iluminado pela verdade bíblica, e o conhecimento se torna caminho para a maturidade espiritual.

 

A formação espiritual não pode ser um apêndice do currículo — ela deve ser seu coração pulsante e que acontece por meio de práticas intencionais que promovam o crescimento espiritual: oração constante, estudo bíblico profundo e comunhão genuína. O discipulado se torna uma vivência diária, onde discipuladores atuam como mentores espirituais e a sala de aula se transforma em espaço de discipulado contínuo para o amadurecimento em Cristo. Essa integração entre ensino e espiritualidade gera uma cultura que reflete o Reino de Deus (DURÃES e RAMIRO, 2018).

 

A formação de facilitadores, de professores, discipuladores é essencial para que o currículo cumpra sua missão. Educadores cristãos devem ensinar com propósito, sensibilidade espiritual e compromisso com o Reino de Deus. Isso exige uma pedagogia que promova reflexão crítica, discernimento e ação como a pedagogia de Jesus. O aprendiz, aluno, discípulo são vistos como ser integral (física, cognitiva, social, emocional, espiritual) e o ensino busca desenvolver todas essas dimensões em harmonia com os valores do Evangelho por meio de um ensino relacional, significativo e contextualizado. A pedagogia cristã é, portanto, transformadora por natureza. (PRICE, 1993)

Educar como missão integral é preparar o cristão para servir a Deus em todas as esferas da vida com justiça, compaixão e integridade. O currículo deve promover o engajamento comunitário, despertando o desejo de transformar realidades locais com ações concretas. Projetos sociais, ações de serviço e reflexões éticas tornam-se parte essencial da formação, conectando o aprendizado à prática do amor ao próximo, fazendo de cada cristão um agente de transformação social. É no contexto da igreja que o cristão coloca palavras em ações. (DURÃES e RAMIRO, 2018).

 

A missão da Igreja é cumprir o IDE de Jesus como firmada em Mateus 28.19-20 “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. As ações estratégicas como resultado de projetos pedagógicos que emanam como proposta de vivência prática do currículo podem fortalecer o evangelismo e o discipulado. As experiências ampliam o impacto da formação, tornando o currículo um instrumento de serviço à comunidade de fé que vincula a formação de discípulos e a proclamação do Evangelho como o esteio da vida cristã.

 

O currículo cristão, fundamentado na missão de Deus e na sabedoria das Escrituras, é um instrumento de transformação. Ele não é apenas fonte de conhecimento, mas busca formar discípulos preparados para viver com propósito e impactar o mundo com luz e verdade do Evangelho. Como Paulo declara em Colossenses 1.28, nossa meta é apresentar a todos maduro diante de Cristo — e isso só é possível quando fé, educação e missão caminham juntas.

 

CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA. Departamento de Educação Cristã. Plano Diretor de Educação Cristã. Rio de Janeiro: Editora Convicção, 2024.

 

DURÃES, I. O.; RAMIRO, E. C. Educação Cristã: reflexões sobre desafios e oportunidades. São Paulo: Editora Reflexão, 2018.

LEBAR, Lois E. Educação que é cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

 

PRICE, J. M. A pedagogia de Jesus; o mestre por excelência. Rio de Janeiro, JUERP, 1993.


Márcia Fernandes Kopanyshyn, educadora cristã, administradora e pedagoga; ministra de Educação Cristã da PIB em Jacarepaguá - RJ; diretora-executiva da Ordem dos Educadores Cristãos Batistas do Brasil

 
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