A pergunta sobre a necessidade do preparo teológico dos vocacionados para o ministério pastoral, a priori, tem um sim como resposta plausível. A razão de tal assertiva consiste no fato de que, no contexto da denominação Batista, aquele que “aspira ao episcopado” deverá ser submetido a um criterioso exame por meio de um concílio de pastores filiados à Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB). O objetivo é constatar que suas convicções doutrinárias estão em perfeita consonância com a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira (CBB). Dentre a documentação exigida, o candidato apresentará uma declaração emitida pela “instituição onde cursou, ou cursa Teologia, atestando sua regularidade acadêmica” e que tal instituição teológica seja “filiada à ABIBET”.1 Mas, a questão mais intrigante consiste em saber se há respaldo bíblico para o preparo teológico de um vocacionado. Vejamos alguns itens que respondem a tal questão.
A excelência como parâmetro aferidor do ministério pastoral
O apóstolo Paulo, ao descrever o perfil dos vocacionados para o exer1 Documentos Batistas: Exame e Consagração ao Ministério Pastoral. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Convicção, 2011, p. 14. cício do episcopado, estabelece parâmetros que designam o status do episcopado como “excelente obra” (I Timóteo 3.1). Ele afirma, categoricamente, que, dentre os critérios estabelecidos, está a aptidão de um mestre exemplar: “É necessário que o bispo seja [...] apto para ensinar” (I Timóteo 3.1,2).
A relação ensino-aprendizagem, pedagogicamente, foi padronizada por Jesus como mestre durante o processo de habilitação dos Seus discípulos. Jesus lhes deu a conhecer “os mistérios do reino de Deus” (Mateus 13.11). Reproduzir os ensinos de Jesus é uma tarefa que exige dos pastores uma aptidão eficaz que jamais pode ser adquirida através da leitura devocional das Sagradas Escrituras. Segundo o apóstolo Paulo, o obreiro aprovado por Deus é aquele “que maneja bem a palavra da verdade” (II Timóteo 2.15). Ele faz a exposição das Escrituras com precisão, clareza e objetividade, em conformidade com as exigências divinas.
A incumbência missional da igreja como embaixada do reino de Cristo
Por ser reconhecida como “coluna e baluarte da verdade” (I Timóteo 3.15), a Igreja é detentora dos oráculos divinos, contidos na Bíblia Sagrada, reconhecida como o registro fiel e inerrante da revelação de Deus. Referindo-se ao propósito da obra missional, Paulo afirmou que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (II Coríntios 5.19). Isto foi usado como argumento e prova de que todos os ministros eclesiásticos foram designados para o exercício do “ministério da reconciliação” (II Coríntios 5.18). Portanto, o ministério de Jesus é padrão a ser adotado por todos os ministros, que foram nomeados como “embaixadores em nome de Cristo” (II Coríntios 5.20).
Embaixador é o representante oficial do governo de seu país em um país estrangeiro. No contexto eclesiástico, os “ministros de Cristo” devem ser considerados pelas pessoas do mundo como “despenseiros dos mistérios de Deus” (I Coríntios 4.1). São cidadãos do reino dos céus que representam Cristo perante o reino do mundo. Portanto, cada embaixador de Cristo haverá de ser dotado das habilidades específicas que um membro da Igreja, restrito ao nível do laicato, jamais pode exercer. A razão disso é que todo embaixador de Cristo deverá ser um ministro, cuja habilidade de liderança seja semelhante à que Moisés adquiriu em sua educação na corte do faraó egípcio.
A edificação da Igreja através de ministros habilitados
Em seu discurso como profeta da Igreja primitiva, Estêvão fez referência a Moisés como um homem que “foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras” (At 7.12). Da mesma forma, os ministros de Cristo, designados para o ofício pastoral, necessitam de um preparo adequado, no ambiente adequado, que lhes concedam o conhecimento adequado, para que sejam eficazes no desempenho do seu ministério.
O encargo da missão eclesiástica foi entregue a um colegiado de ministros específicos nomeados como “apóstolos,... profetas,...evangelistas,... pastores e mestres” (Ef 4.11). Embora exerçam funções distintas, todos deverão usar a mesma ferramenta de trabalho: as Sagradas Escrituras. As atribuições, que lhes foram delegadas por Cristo, tem como propósito fundamental “o aperfeiçoamento dos santos” (Efésios 4.12). Isto implica em capacitação individual “para o desempenho do seu serviço”, cujo propósito não é outro, senão, “a edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4.12). A competência para o exercício de tais ministérios, no contexto atual, exige um conhecimento profundo, obtido somente através de uma capacitação teológica.
Nesta era da pós-modernidade, é indispensável a todos os vocacionados o estudo da Teologia numa instituição devidamente credenciada. A habilitação dos vocacionados requer o estudo de diversas disciplinas, cujo conteúdo curricular corresponde ao trabalho a ser desempenhado por quem lida com seres humanos, em assistência às suas necessidades espirituais, cognitivas, emocionais e sociais. Além das numerosas disciplinas bíblicas e teológicas, fundamentadas na revelação divina, é imprescindível o estudo nas áreas das ciências humanas tais como Psicologia, Filosofia e História. Oremos para que Deus supra sua Igreja com pastores teologicamente habilitados.