Mesmo com a desconstrução de tantos mitos e com tantas informações que temos hoje em dia, as questões ligadas à sexualidade ainda são tratadas de modo muito reservado e, às vezes, como tabu. Por conta disso, muitas pessoas casadas e solteiras – adolescentes, jovens e adultos – ainda sofrem silenciosamente com problemas relacionados às disfunções sexuais.
Entendamos por disfunção sexual a incapacidade ou a dificuldade em ter uma relação sexual de modo prazeroso. Para início de conversa, considerando que falamos para pessoas que possuem convicções cristãs, é importante destacar que o desejo sexual não é pecado. No livro “União com Cristo e identidade sexual”, Rosaria Champagne Butterfield diz: “o chamado de Cristo em minha vida não me lobotomizou”. Se a expressão do desejo sexual fosse pecado, não teríamos o livro de Cânticos na Bíblia, que fala do amor e da atração sexual entre o rei, possivelmente Salomão, e a jovem Sunamita.
Ainda sobre o livro de Cantares, ou livro dos Cânticos, ouvi um crente dizer que não concordava com um livro que usa uma linguagem sexual tão explícita, erótica mesmo, estar na Bíblia. Tal pensamento é fruto de uma forte influência cultural de demonização do desejo sexual. John White, no livro “Eros e sexualidade numa perspectiva cristã”, cita C. S. Lewis, dizendo que o sexo é uma invenção de Deus e não do diabo (1994, p. 12, editora ABU). Nesse sentido, não é correto, biblicamente falando, associar o prazer sexual ao pecado. O que não significa dizer, como os hedonistas pensam, que o sentido da vida está na satisfação do prazer.
No artigo ASPECTOS PSICOLÓGICOS DAS DISFUNÇÕES SEXUAIS, publicado na Revista Brasileira de Sexualidade Humana (2019, p. 47-54, Editora RBSH), Gabriela Silveira Meireles cita definição da OMS, ressaltando que a saúde sexual é um “estado de completo bem-estar físico, emocional, mental associado à sexualidade e não só à ausência de doença ou enfermidade”. Acrescentaria aqui a dimensão espiritual da sexualidade, a partir da perspectiva do amor, da intimidade e do respeito pelo outro. Infelizmente, vivemos um tempo de banalização do prazer sexual pela valorização egoísta do prazer individual, onde o outro é meramente um objeto descartável de desejo.
Um outro aspecto da dimensão emocional/psíquica da satisfação sexual se dá pela vivência de experiências traumáticas, fruto muitas vezes de abuso sexual, como o estupro, ou de outros atos de violência física e mental, em especial na infância. Em muitos casos essas experiências traumáticas são mantidas em segredo, envolvendo pessoas próximas vistas socialmente como“acima de qualquer suspeita”. Isso sem contar o medo da exposição e do julgamento.
Sem dúvida, existem fatores orgânicos que afetam a libido. No entanto, hoje em dia, há bons medicamentos que, quando administrados por um médico, podem ajudar nesse sentido. Contudo, arrisco-me a dizer que os fatores emocionais estão na base da grande maioria dos problemas relacionados à boa saúde sexual.