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Clínica pastoral - Parte II

Não sei se você já precisou fazer uma ressonância magnética. Nesse tipo de exame, a pessoa é colocada dentro de um túnel, onde campos magnéticos e ondas de radiofrequência são utilizados para produzir imagens detalhadas do interior do corpo. Pessoas claustrofóbicas geralmente não se sentem à vontade nesse ambiente, mas trata-se de um procedimento essencial para o diagnóstico de diversas enfermidades. Um detalhe curioso e importante é que, devido à intensidade das ondas geradas durante o exame, o técnico e o médico responsáveis não permanecem na mesma sala que o paciente; eles acompanham tudo de um ambiente isolado, protegidos por barreiras que impedem a exposição direta.

 

Você pode estar se perguntando: o que isso tem a ver com o aconselhamento pastoral? O paralelo é o seguinte: na clínica pastoral, o pastor está submetido a um campo de ressonância espiritual e emocional que precisa reconhecer e do qual deve se proteger. Ao ouvir histórias e relatos traumáticos, carregados de dores e angústias, o pastor se expõe a cargas emocionais e espirituais que, se não forem devidamente reconhecidas, podem afetá-lo profundamente. Então, como cuidar sem se consumir?

 

A ressonância emocional é uma conexão profunda — muitas vezes inconsciente — sentida por pessoas que se encontram numa relação em que emoções evocadas por histórias ou experiências alinham-se aos sentimentos ou valores do outro. Não é incomum que, no contexto do aconselhamento, o que está sendo compartilhado por quem pede ajuda seja, de maneira muito semelhante, uma experiência vivida pelo próprio conselheiro. Por exemplo: um pastor que enfrenta dificuldades no casamento e ouve a história de uma mulher, uma irmã, com o mesmo tipo de problema. Em situações assim, o envolvimento emocional não é inevitável, mas é bastante possível.

 

No livro A arte do aconselhamento psicológico, Rollo May afirma: “Uma vez estabelecida a situação do aconselhamento, seria teoricamente aconselhável que o aconselhador esquecesse todas as suas experiências próprias. Sua função é esquecer-se de si mesmo, ser quase uma tabula rasa à situação empática.” (1987, p. 71, Ed. Vozes).

 

A maneira pela qual o conselheiro consegue esvaziar-se das emoções associadas às próprias experiências — que podem reverberar e contaminar o aconselhamento — é buscando, para si, um espaço de escuta. Ou seja, um lugar onde possa falar de suas emoções e vivências. Rollo May também diz que o conselheiro tende a exercer maior influência na dinâmica do aconselhamento. No entanto, adverte: “Se estiver cansado ou, por alguma outra razão, sua coragem estiver reduzida, o jogo pode virar. Ele pode ser surpreendido assimilando o estado de espírito do cliente e permitindo que este dirija a entrevista.” (Op. cit., p. 82).

 

É fundamental que o conselheiro, e por extensão o pastor, esteja atento ao seu próprio estado emocional. Se estiver fragilizado ou emocionalmente vulnerável, corre sério risco de absorver inconscientemente as angústias do outro, tornando-se refém da carga emocional que deveria ajudar a aliviar. É aí que a “ressonância emocional” se torna um perigo real: o cuidador deixa de ser referência de estabilidade e passa a reproduzir, ainda que sutilmente, o sofrimento que acolhe.

 

A clínica pastoral não é uma tarefa simples, como muitos pensam. Algumas questões compartilhadas nesse espaço podem reverberar negativamente na vida emocional do próprio pastor. Por isso, além do conhecimento teológico e da capacitação técnica, é essencial que o pastor busque apoio emocional contínuo. Cuidar de vidas exige mais do que preparo: exige equilíbrio interior. Negligenciar esse cuidado é abrir caminho para o esgotamento, o adoecimento silencioso e a perda da sensibilidade espiritual. O pastor que cuida de almas precisa lembrar, com humildade, que a sua alma também precisa ser cuidada, fortalecida e acolhida.

 
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